Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Folclore completou 70 desde que foi
fundada. Amanhã, dia 24 de fevereiro é aniversário de nascimento de nosso fundador Aires da Mata Machado Filho. Encontramo-nos em meio a duas datas
emblemáticas.
Vamos imaginar o dia, melhor, a noite do dia 19 de fevereiro do ano de 1948. Percorramos a Avenida Afonso Pena e paremos em frente ao
Conservatório Mineiro de Música. Bem à entrada, encontra-se o Diretor professor Levindo Lambert. Logo, logo, chegam outros anfitriões dessa casa
que é síntese do movimento musical mineiro desde o ano de 1925. Vemos e distinguimos, sem esforço, Branca de Carvalho Vasconcelos, Flausino do
Vale e Angélica de Rezende Garcia. Em seguida, chegam os convidados: Aires da Mata Machado Filho, Nelson de Sena, João Dornas Filho, Heli Menegalle,
Fausto Teixeira, Henriqueta Lisboa, Lúcia Machado de Almeida e Antônio Joaquim de Almeida, João Camilo de Oliveira Torres, Tabajara Pedroso, Mário
Lúcio Brandão, Franklin de Salles. Foram 15 membros nesta primeira reunião da qual surgiu a deliberação de formar uma comissão de planejamento
composta por Aires da Mata Machado Filho, João Dornas Filho, Levi Braga e Franklin Salles. Deliberou-se ainda que o professor Lindolfo Gomes fosse
objeto de conversa do grupo sobre uma de suas comunicações sobre as origens populares do maxixe.
Na segunda reunião, realizada no mesmo local no sábado dia 06 de março, foi apresentado o Plano de Trabalho composto de sete linhas diretoras:
De reunião em reunião, a Subcomissão Mineira de Folclore alcançou o total de 28 membros fundadores ao longo do ano de 1948. Mas, o que interessa
fixar é o Programa imaginado pela comissão de planejamento: Reunir todos os estudiosos com os respectivos estudos; realizar cursos e conferências
sobre folclore; promover a publicação de obras esgotadas ou ainda inéditas e consolidar um Centro de Informações Folclóricas.
Há águas represadas!
Percorridos 70 anos, este é o momento de deixar sonhos de lado e recuperar projetos surgidos no primeiro momento:
Recuperar o Centro de Informações Folclóricas iniciado pelo esforço de Antônio de Paiva Moura em 1983, e recuperado em seus aspectos básicos pelo
professor doutor Raimundo Nonato de Miranda Chaves; consolidar os estudos iniciados pelo projeto “O Movimento dos Folcloristas em Minas Gerais” que
se encontram em execução com financiamento do Fundo Estadual de Cultura; e consolidar as publicações das Edições Carranca inauguradas no ano de 1976
com apoio da Comissão Nacional de Folclore naquela data.
Para finalizar, quero fixar que o movimento dos folcloristas em Minas Gerais surgiu no ano de 1948 em resposta à criação da Comissão Nacional de
Folclore a qual respondia ao apelo da UNESCO. Era, portanto, um híbrido, diferente dos esforços anteriores de Mário de Andrade e de Luis da Câmara
Cascudo, os quais lutaram pela coordenação do movimento como órgão da sociedade civil.
As Comissões regionais, tanto quanto a Comissão Nacional, pagariam o ônus de se abrigarem no interior dos aparelhos de Estado. Necessárias em
momentos de pânico, - a segunda Guerra Mundial acabara de acabar (!) -, viverão o incômodo de se responder apenas aos interesses passageiros dos
governos.
O maior desafio imposto a todas as comissões de folclore surgidas no ninho matricial do Estado foi e é de que Estado é abstração. O concreto são
os Governos e governos servem a interesses particulares obedientes a conjunturas do momento. O movimento de folclore surge das contradições dos
Estados Nacionais e dos governos empenhados em reforçar o desenvolvimento dos Mercados. Tais como indicarem os mercados, tais serão os governos
– Como vai o PIB? Tal será a crise ou os anos de prosperidade! -. O Folclore que tem como foco o Povo e Nosso Saber enquanto Povo se situa na
contramão dos interesses do Mercado e dos Governos que se orientam pelos ditames do mercado. Este é o nosso desafio e nossa missão. Independência,
Liberdade orientadas pelo valor maior de Justiça são eixos de orientação do Movimento dos Folcloristas, se esses movimentos não se submeterem nem
a Mercado nem à vassalagem dos Governos subservientes.
Aderir ao movimento dos folcloristas é professar ver nosso saber viver com a atenção para as condições impostas a esse saber e lutar pelo
desenvolvimento livre desse saber. Moral da história, pertencer à Comissão Mineira de Folclore é fazer profissão de fé de que além do Sistema
de Mercado que opera com equações e inequações para determinar a desigualdade de valores; além do sistema do Estado que determina o quanto cada
um deve contribuir para os governos “justos” ou “injustos” sem atenção para o que deve ser atribuído e distribuído pelas imposições chamadas de
“legais”; é principalmente crer com fé de que seja como agente do Mercado, seja como cidadão do Estado tudo que fazemos, agimos e sabemos tem como
base saber doar sem obter qualquer retribuição. Doar vida, doar conhecimento, doar arte, doar inteligência. Nada disso se troca; nada disso resulta
de imposição.
A Comissão Mineira de Folclore se defronta com dois desafios:
Penso que isto é sonho porque, o Mercado pede líderes que desconheçam a dádiva do trabalho e o Estado pede dirigentes que se julguem competentes
para agir em nome do povo a favor de uns e contra os outros em nome da Lei.
Felicidades, Míriam; felicidades, Fabiane; felicidades, Marcus; felicidades Elieth. Todos nós estamos prontos para suspendê-los pau acima!
Estamos na base do pau de sebo, podem trepar sem receio. Promovam nossa festa.
Adeus Taylor; Adeus Fayol; Adeus hierarquia cibernética!